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QUANDO O ASFALTO VIRA RIO: ENCHENTES EM JOÃO PESSOA

  • Foto do escritor: Repórteres:  Carlos André, Cecília Patricio e Deyslla Silva
    Repórteres: Carlos André, Cecília Patricio e Deyslla Silva
  • 1 de out.
  • 4 min de leitura

As causas principais das enchentes urbanas estão relacionadas a chuvas intensas, acúmulo de lixo nos bueiros, erros de projetos e a ocupação irregular do solo. Em 2016, no 5º Simpósio de gestão Ambiental e Biodiversidade, os pesquisadores Juliana Gomes, Sousa Miguel e Djailson Bezerra Felix do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), publicaram um mapa de riscos de inundação e verificaram que as áreas de inundação correspondem às áreas de alagamentos que acontece em alguns bairros de João Pessoa, como Miramar, Mangabeira, Mandacaru, Varadouro, Bancários e Bessa. Nestes bairros, houve enchentes em 2025. Porém, o que difere alagamento de enchentes ou inundações? 



A imagem mostra um alagamento na Rua Maciel Pinheiro com a Barão do Triunfo, na cidade de João Pessoa, em 2 de julho de 2025.
FOTO: DIVULGAÇÃO SEMOB

Conforme explicado por Alexandre Groth, professor de geografia, existe uma linha tênue que explica a diferença entre alagamentos e enchentes. O que separa esses dois acontecimentos é o grau de transbordamento da água. Uma enchente é o aumento de nível da água de um rio ou corpo d’água que atinge o ponto mais alto, enquanto a inundação é a consequência que ocorre quando a água transborda e invade áreas que normalmente não ficam submersas, como casas e ruas. Mas e as inundações que ocorrem em ruas ou bairros que não ficam perto de fontes de água, como rio e lagos? Isto é chamado de alagamento, que são acontecimentos mais localizados, na qual uma região mais baixa fica parcial ou totalmente submersa devido a problemas de drenagem da água, ou seja, um problema que ocorreu no projeto urbano ou pelo acúmulo de lixo nos bueiros. 


Quando começa a chover, todo mundo lembra de tirar as roupas estendidas ou algo que esteja do lado de fora da área coberta da casa. Mas para quem mora em área de risco, a chuva não lembrava só isso. O medo e a luta para salvar as conquistas vem junto.



Bombeiros socorrendo uma pessoa
Fonte: Folha de S.Paulo, Bairro São José, 2013

“Quando começava a chover, o medo tomava conta de mim, porque morava em área de risco do Rio de Jaguaribe. Então, a minha casa era a primeira enchia e perdia praticamente tudo, e também o medo de bichos que entram junto com a água da chuva”, relata Cleide Ambrósio, aposentada e ex-moradora do bairro São José, em João Pessoa.


O drama de viver uma cheia ficou na memória para sempre. Eram tão constantes que dona Cleide se recorda de uma situação dramática que viveu em 2019.


“Quando o nível da água chegou a metro e vinte, e quando vi a enchente, ainda entrou 40 centímetros, totalizando 1 metro e 60 centímetros. O desespero tomou conta de todos nós. Foram dias angustiantes.. Só Deus para nos ocorrer neste momento. Foram muitos momentos de vida que passei morando em áreas de risco”, destaca Cleide.



A imagem mostra uma reportagem do telejornal JPB1 sobre as inundações no bairro São José, em João Pessoa, após chuvas intensas.
Imagens: Reprodução/TV Cabo Branco, 2025

Existem muitas Cleides não só em João Pessoa, mas em diversas partes do mundo. Entre os tópicos de discussão da Cop 30, um deles é o de Justiça Climática e os impactos sociais das mudanças climáticas. A vida de quem precisa se mudar devido a uma cheia, incêndios florestais, avanço do mar ou qualquer fenômeno envolvendo a reação da natureza, quando não são bem assistidos pelo governo acabam perdendo sua moradia. 


As memórias de infância e a brincadeira na rua, em dias de sol e chuva são bem comuns nos cantos do Brasil. Quem nunca tomou banho de chuva quando criança? Entretanto, Railson Fernandes foi uma criança vítima de efeitos climáticos e chuva não era sinônimo de alegria ou brincadeiras.


“Boa parte da minha vida é essa questão do alagamento. Sempre foi uma grande preocupação para todos os moradores. Conforme chovia muito, tudo alagava. Os moradores perderam móveis, perdia tudo. Ou seja, perdiam coisas que eles trabalhavam tanto pra conseguir. E era sempre uma incerteza de quando é que vai chover? Será que vai alagar? Mesmo com as obras que a gente sabe que a prefeitura fez no no bairro, parece que na verdade, depois das obras piorou. O rio ainda sobe com muita frequência e muito rápido”, relembra Railson, ex morador do bairro São José.


Uma infância marcada por memórias de salvar o pouco que construíram, o alívio era ver a chuva passar e todo aquele cenário caótico desaparecer. Dentre os desejos por brinquedos, a criança, uma vítima do efeito climático, desejava mais do que tudo, escapar das consequências da chuva, de escapar do temor. 


“A gente quando era criança não podia brincar. Era coisa bem complicada porque a gente via os pais da gente, os tios e avós naquele aperreio todo e a gente não sabia o que fazer, porque éramos crianças. Quando alaga ninguém conseguia ver a rua, era só água”, concluiu.


São diversos os problemas a serem debatidos pelas autoridades a respeito dos impactos das mudanças climáticas. A defesa civil de João Pessoa vem destacando que os enfrentamentos de grandes chuvas registradas na capital não estão com ocorrências graves.


Outra questão em grandes cheias, são os animais que também temem as chuvas intensas, perdendo seu lar para casa, eles procuram refúgios, muitas vezes vão parar nas casas dos moradores. O aumento da umidade também atrai espécies que gostam desse tipo de ambiente. Porém, existe uma forma específica de lidar com estes animais, especialmente os peçonhentos. Segundo o Instituto Butantan, o correto é não capturá-los ou tentar identificar, as pessoas não devem se aproximar. A instrução é chamar o Corpo de Bombeiros ou Controle de Zoonoses, ou ainda, a Defesa Civil para realizar uma captura segura, tanto para o animal e para os indivíduos ao redor. 


“É importante destacar que, mesmo diante de um período bastante chuvoso, que superou médias históricas em nossa cidade, não tivemos o registro de ocorrências graves, particularmente entre os dias 14 e 16 de agosto – com chuvas próximas dos 270 mm –, com zero de pessoas feridas ou vítimas fatais. Isso é um ganho relevante para nós”, destacou o coordenador da defesa civil, Kelson Chaves.


Em agosto deste ano, a cidade de João Pessoa superou a média histórica e registrou 393,2 milímetros de chuva. Segundo a defesa civil, são 133,7 milímetros a mais em relação ao período homólogo.


Apesar do monitoramento sendo feito pela defesa civil e a constatação da redução de danos graves das cheias na cidade, elas não deixam de acontecer e causam impactos sociais. Ainda se faz necessário uma ampliação de uma política pública mais humanizada que não só retire o morador do seu cotidiano, mas que lhe permita recomeçar a sua vida sem apagar o contato com as memórias de onde foi criado e tem uma história.


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