COP-30: O que é, por que importa e como ela se conecta com a Paraíba
- Reportéres: Ana Vitória Cerqueira, Alice Joplin e Maria Clara Marques
- 3 de set.
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Atualizado: há 3 dias
Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, chamada de COP, é o principal fórum internacional para negociações sobre o futuro do planeta diante dos desafios ambientais. Desde 1995, a COP reúne anualmente líderes mundiais, cientistas, representantes de governos e da sociedade civil para debater políticas e acordos que possam limitar os efeitos das mudanças climáticas e garantir um futuro mais sustentável.
Em 2025, o Brasil ocupará o centro desse cenário ao sediar a COP-30, que acontecerá em Belém, no Pará. A escolha da capital amazônica não é aleatória: a Amazônia desempenha papel central no equilíbrio climático global, abrigando parte significativa da biodiversidade mundial e influenciando sistemas de regulação de chuvas e temperaturas. A COP-30 deve reunir chefes de Estado, organizações internacionais e especialistas para negociar metas mais ambiciosas de redução de emissões, financiamento climático e estratégias de desenvolvimento sustentável.

A importância da conferência, no entanto, vai além da arena global ou dos limites geográficos da Amazônia. Cada decisão, acordo ou orientação adotada nas COPs reflete-se em todo o território brasileiro, inclusive na Paraíba. Embora o evento aconteça na região Norte, os efeitos de suas discussões alcançam regiões como o Semiárido paraibano, tradicionalmente vulnerável aos efeitos da seca e à escassez de recursos hídricos.
Na Paraíba, a agenda climática ganha força com projetos de energias renováveis, novas políticas para adaptação à seca, agricultura sustentável e articulação entre poder público, pesquisadores e a sociedade civil. Os desafios locais, como a desertificação e a necessidade de proteção de recursos naturais, se conectam diretamente aos grandes debates globais. À medida que o Brasil fortalece seu protagonismo internacional ao sediar a COP-30, estados como a Paraíba têm a oportunidade de dialogar com experiências globais e consolidar suas próprias contribuições.
O que é a COP-30
A Conferência das Partes (COP) é o principal encontro anual da ONU que reúne países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). Ela funciona como o órgão supremo de decisão dessa convenção, com o objetivo de avaliar e atualizar medidas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e combater o aquecimento global. Essa reunião ocorre desde 1995, reunindo representantes de praticamente todos os países do mundo para discutir acordos e estratégias que busquem limitar o aumento da temperatura global e favorecer a adaptação às mudanças climáticas. A primeira edição aconteceu em 1995, em Berlim, Alemanha.

Ao decorrer dos anos foram firmados importantes marcos nas negociações ambientais, como o Protocolo de Kyoto, feito em 1997 para reduzir emissões, e o Acordo de Paris, adotado em 2015, que objetivou manter o aumento da temperatura média global “bem abaixo” de 2 ºC em relação à era pré-industrial, preferencialmente limitando-o a 1,5 ºC.
Por que a COP-30 importa global e nacionalmente
A edição de 2025, marca um momento histórico para o país, já que será a primeira vez que a conferência será sediada no Brasil. Esse fato coloca o país em uma posição de liderança nas negociações internacionais, destacando a importância da Amazônia como elemento-chave para o equilíbrio climático mundial.
De acordo com o portal oficial da COP30, o evento deverá reunir mais de 40 mil visitantes, incluindo cerca de 7 mil integrantes da chamada "família COP", um grupo formado por delegações, equipes da ONU e representantes de países membros. O encontro é visto como uma oportunidade para o Brasil reafirmar seu protagonismo nas áreas de energias renováveis, biocombustíveis e agricultura de baixo carbono, além de fortalecer seu papel em processos multilaterais importantes, como as conferências Eco-92 e Rio+20.
Entre os principais temas que serão discutidos estão a redução das emissões de gases de efeito estufa, adaptação às mudanças climáticas, financiamento climático para países em desenvolvimento, tecnologias de energia renovável, preservação de florestas e biodiversidade, além da justiça climática e seus impactos sociais. Esses pontos são fundamentais para que o mundo avance em direção a metas mais ambiciosas e eficazes no combate ao aquecimento global.
Para o Brasil, sediar a COP-30 é um marco estratégico que promove a discussão da Amazônia no próprio bioma, possibilitando um olhar mais próximo às questões dos povos indígenas, ribeirinhos e das comunidades locais. Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "Agora, vamos falar sobre a importância da Amazônia dentro da própria Amazônia", ressaltando a ampliação do debate que antes acontecia distante da região.
A conferência, assim, vai além do significado diplomático; ela tem o potencial de gerar impactos concretos nas políticas ambientais e sociais do Brasil e de influenciar positivamente iniciativas de sustentabilidade em todo o país, incluindo nas regiões mais afetadas pelos desafios climáticos, como o Semiárido paraibano.
Site oficial da COP indica que a COP 30 desempenha um papel essencial para estimular o financiamento climático e a criação de políticas integradas que unam desenvolvimento econômico sustentável e preservação ambiental, contribuindo para o enfrentamento da crise climática global de forma mais justa e eficaz. Esse compromisso global enfatizado pela COP-30 destaca sua relevância e o porquê de sua importância para o planeta e para o Brasil, país que se posiciona como protagonista nessa agenda.
Amazônia e Belém como sede da COP-30
Pela primeira vez, uma conferência das Partes da ONU sobre mudanças climáticas será realizada na Amazônia. Belém, capital do Pará, receberá líderes mundiais, negociadores, representantes da sociedade civil e formadores de opinião. A decisão de realizar a COP na Amazônia tem um forte valor simbólico e político. Belém é considerada a porta de entrada para a floresta brasileira e carrega em sua geografia, cultura e cotidiano as condições e desafios de viver em uma região estratégica para o equilíbrio climático global.
Em entrevista à nossa reportagem, a arquiteta e urbanista Alice Piva, que participará da COP 30, faz parte da liderança jovem latino-americana por justiça climática e é especialista em regeneração urbana, explicou que sediar a COP em Belém é uma forma de colocar a Amazônia no centro do debate internacional. “Cientificamente a gente sabe que não pode perder a Amazônia. Se isso acontecer, não há chance de cumprir as metas globais nem de garantir um planeta habitável nas próximas décadas. Por isso, realizar a COP em Belém é simbólico: mostra ao mundo tanto a importância da floresta quanto as dificuldades concretas de viver em uma região que ainda carece de infraestrutura e alternativas de desenvolvimento para sua população”, afirmou.
Em relação às expectativas para o encontro, a Conferência deve atrair compromissos mais concretos no enfrentamento às mudanças climáticas, sobretudo no financiamento de ações de preservação e adaptação em países em desenvolvimento. A presença de organizações sociais, ambientalistas e influenciadores também promete aumentar a pressão por metas mais ambiciosas e pela garantia de justiça climática.
Mais do que um evento diplomático, o fato de que será em Belém tem potencial para se tornar um marco histórico. Ao colocar a Amazônia no centro da cena internacional, a COP-30 reforça a ideia de que não há solução global para a crise climática sem a proteção da floresta e sem o reconhecimento do papel fundamental das populações que vivem nela.
Como os acordos assinados na COP-30 em Belém podem influenciar no sertão da Paraíba?
Para o sertanejo paraibano, a seca é uma realidade cíclica e agressiva. Mas e se as decisões tomadas em um evento global na Amazônia pudessem alterar drasticamente esse cenário? A COP-30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém, ganha um novo significado quando vista sob a perspectiva do Semiárido. A Paraíba não pode ser um mero espectador. O Semiárido não é uma vítima passiva, é uma região com um potencial imenso de adaptação, e a COP-30 precisa refletir isso.
As decisões em pauta, que podem parecer distantes, têm potencial para trazer medidas de adaptação climática diretamente para a caatinga. Tecnologias de captação de água da chuva, fomento à agricultura familiar resistente à estiagem e o uso de energias renováveis como a solar e eólica podem receber mais incentivos e financiamento internacional.
A urgência do debate é comentada pela arquiteta e urbanista Alice Piva. "A gente sabe que o Nordeste é uma das regiões do mundo mais impactadas pela crise climática", afirma Piva. Ela cita: "A seca é uma dinâmica natural da nossa região, da nossa caatinga, mas ao mesmo tempo, ao longo das últimas décadas, a gente já tem pesquisas científicas que comprovam que ela é mais intensa, mais duradoura e mais imprevisível."
Para mostrar o quão crítica é a situação, Piva menciona dados do professor Alexandre Pires, da Universidade Estadual do Ceará. "Uma publicação que eles fizeram fala que para vários estados do Nordeste, o nível de aquecimento em relação à média histórica está muito acima da média mundial", explica. "No mundo, a gente superou no ano passado o 1.5°C de aquecimento em relação ao nível pré-industrial, mas na Paraíba, o que eu vi em uma pesquisa de uns três anos atrás foi de 2.4°C. Ou seja, a gente já tem um aquecimento de quase o dobro do que está acontecendo no mundo."
A COP-30 é uma oportunidade para o sertão paraibano. Mais do que falar de problemas, a Paraíba tem a chance de mostrar sua capacidade de inovar e se adaptar. As decisões tomadas na Amazônia podem, sim, mudar o destino da caatinga e, com isso, garantir um futuro de desenvolvimento para milhões de pessoas. O desafio agora é garantir que os acordos e promessas em Belém se transformem em esperança no Semiárido.
Oportunidades e desafios no Nordeste
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-30, em Belém (PA), em 2025, projeta uma sombra de desafios e oportunidades para a Paraíba. Longe dos holofotes da capital paraense, o estado nordestino precisa de uma articulação estratégica para não ser apenas um espectador, mas um protagonista. O evento, que reunirá líderes de todo o mundo, pode ser um catalisador de transformações, mas exige que a Paraíba se prepare para um futuro mais sustentável, com a urgência de uma agenda verde. A pressão global por metas ambientais mais rigorosas irá impactar a agricultura, o turismo e a indústria locais, demandando adaptação rápida e políticas públicas eficientes
Apesar dos desafios, as oportunidades são promissoras. A COP-30 pode colocar a Paraíba no mapa internacional de investimentos sustentáveis. O estado pode atrair financiamento para projetos de bioeconomia, turismo ecológico e tecnologias limpas. A riqueza da biodiversidade local, por exemplo, pode ser valorizada, gerando renda e empregos a partir da pesquisa e do uso sustentável de recursos naturais. O evento é um palco de negociações e parcerias, e a Paraíba precisa estar pronta para se beneficiar desse intercâmbio de conhecimentos e tecnologias.
A participação da Paraíba na COP-30, mesmo que de forma indireta, pode influenciar o futuro do estado. É a chance de mostrar ao mundo o potencial de suas iniciativas sustentáveis, como a proteção das áreas de mangue e o trabalho de recuperação da vegetação nativa. Ao mesmo tempo, o evento serve como um gigantesco laboratório de aprendizado. As discussões sobre mercado de carbono, financiamento climático e justiça ambiental são temas que a Paraíba precisa dominar para moldar suas políticas públicas e garantir um desenvolvimento equitativo e resiliente.
Em suma, a COP-30 não é apenas um evento distante na Amazônia. É um espelho que reflete a urgência e a complexidade do futuro climático para a Paraíba. A forma como o estado se prepara para absorver os impactos e aproveitar as oportunidades definirá seu caminho nas próximas décadas. A conferência é um convite para que o estado inove, se modernize e se posicione como um modelo de desenvolvimento sustentável na região Nordeste.
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