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Proteção da Caatinga: fauna e flora em foco na COP30

  • Foto do escritor: Repórteres: Adrielly Torres, Beatriz Paulino, Isla Lima e Mariane Santos
    Repórteres: Adrielly Torres, Beatriz Paulino, Isla Lima e Mariane Santos
  • 24 de set.
  • 5 min de leitura
A imagem mostra um jaguarundi (também conhecido como gato-mourisco ou gato-vermelho), um felino selvagem nativo das Américas
Gato mourisco. Foto: Instituto SOS Caatinga

No coração do Nordeste brasileiro, a Caatinga guarda um patrimônio natural que impressiona pela resistência e pela diversidade. Apesar de ser conhecida pelas paisagens secas e pelos longos períodos de estiagem, esse bioma abriga uma riqueza de fauna e flora que não existe em nenhum outro lugar do mundo. São plantas adaptadas para sobreviver à escassez de água, animais que desenvolveram estratégias únicas para lidar com o calor extremo e ecossistemas que revelam uma engenhosidade natural rara. 


A realização da COP30, em Belém, em 2025, amplia a relevância do debate sobre a conservação da fauna e flora da Caatinga. O tema se conecta diretamente ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 15 – Vida Terrestre, que busca proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, combater a desertificação e deter a perda de biodiversidade. Nesse contexto, garantir a preservação desse bioma exclusivamente brasileiro também é assegurar o cumprimento das metas globais firmadas no âmbito da Agenda 2030 da ONU. 


A Caatinga concentra espécies locais de grande importância ecológica, muitas delas ainda pouco conhecidas. Essa biodiversidade desempenha um papel essencial na manutenção dos ciclos de vida da região, garantindo equilíbrio ambiental e recursos para milhões de pessoas que vivem no semiárido. No entanto, esse tesouro natural enfrenta ameaças constantes, desde a expansão desordenada de atividades humanas até os impactos crescentes das mudanças climáticas, que já alteram profundamente a dinâmica da região. 

Entre os exemplos mais emblemáticos da flora, estão plantas como o mandacaru, o umbuzeiro e a aroeira, símbolos de resiliência e de utilidade para as comunidades locais. Essas espécies não apenas resistem às condições extremas, mas também oferecem alimento, sombra, remédios e matéria-prima, sendo parte do cotidiano de quem vive na caatinga. O equilíbrio ecológico do bioma depende diretamente dessa vegetação nativa, que sustenta cadeias produtivas e garante a sobrevivência de espécies animais. 

A imagem mostra um macaco-prego-galego (Sapajus flavius)
Macaco-prego-galego. Foto: Instituto SOS Caatinga 

Já na fauna, a caatinga surpreende pela diversidade de aves, répteis e mamíferos que nela habitam. Animais como a ararinha-azul, que ganhou fama mundial pela luta contra a extinção, o tatu-bola, escolhido como mascote da Copa do Mundo de 2014, e pequenos roedores e répteis que só existem nessa região revelam a singularidade do bioma. Cada espécie cumpre um papel fundamental na manutenção dos ciclos ecológicos, seja na dispersão de sementes, no controle de pragas ou no equilíbrio das cadeias alimentares.

 

Apesar dessa riqueza, os desafios são grandes. A perda de habitat, o avanço da desertificação e o uso predatório dos recursos naturais colocam em risco a sobrevivência de muitas espécies. Preservar a fauna e a flora da caatinga não é apenas uma questão ambiental: trata-se de assegurar o futuro de comunidades humanas que dependem diretamente dos serviços ecossistêmicos oferecidos pelo bioma. 

A imagem mostra uma paisagem montanhosa coberta por vegetação densa, que se assemelha às características do bioma Caatinga, especialmente durante o período chuvoso.
RPPN Morro da Torre. Foto: Instituto SOS Caatinga

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou em 2022 um dado preocupante: a Caatinga registrou um aumento de mais de 21,7% no número de espécies ameaçadas de extinção em relação a 2014. Conforme o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o bioma passou de 395 para 481 espécies em risco, o que reforça a urgência em proteger esse patrimônio natural.  


Com base no livro "Conheça e Conserve a Caatinga", do projeto “No Clima da Caatinga”, que visa promover a educação ambiental e a conservação do bioma, é possível destacar o trecho: “Muitas plantas adotam a estratégia de escape ou fuga da escassez de água, acelerando e diminuindo o seu ciclo de vida ou adiando o período de germinação para períodos com maior umidade no solo”. Nesse processo, as plantas germinam, florescem e completam seu ciclo em um curto período, garantindo que sementes e frutos sejam produzidos antes que a umidade do solo se torne insuficiente.


Esse comportamento é comum em plantas herbáceas, como o capim e outras espécies rasteiras. O período de floração da Caatinga é igualmente adaptativo: devido à irregularidade das chuvas na região, cada planta possui um ritmo próprio de floração e frutificação. As flores, geralmente pequenas, têm ciclos curtos, garantindo a produção de sementes antes que a seca cause danos. Esse conjunto de adaptações mostra a resiliência e engenhosidade da flora da Caatinga. 

 

Desafios 

O desmatamento e o uso intensivo do solo para práticas pouco sustentáveis foram algumas das principais causas da perda da cobertura vegetal e do empobrecimento das terras, deixando o bioma mais vulnerável e com pouca capacidade de se recuperar por causa das mudanças climáticas da região. Esse histórico ajuda a entender os principais desafios da Caatinga e a urgência em adotar práticas de conservação ambiental e desenvolvimento sustentável. 


A bióloga Jaqueline Tavares, do Instituto SOS Caatinga, torce que a COP30 marque resoluções para a restauração da biodiversidade da Caatinga “Por ser sediada no Brasil, a COP30 possui maior chance de visibilidade internacional para biomas menos conhecidos, como a nossa Caatinga. Torcemos para que ocorra uma pressão por compromissos ambientais que estimulem o governo a incluir políticas voltadas para o semiárido”. 

Na foto vemos a bióloga Jaqueline Tavares segurando uma cobra
Bióloga Jaqueline Tavares. Foto: Instituto SOS Caatinga

Jaqueline alerta que a perda de biodiversidade na Caatinga compromete profundamente os serviços ecossistêmicos do bioma: “É possível observar que as mudanças climáticas agravam o quadro da disponibilidade de água, que já é um recurso limitado. Os longos períodos de estiagem devido às mudanças climáticas podem mudar relações ecológicas entre a fauna e a flora. Por isso este desequilíbrio pode desencadear uma série de extinção de fauna e flora. Além disso, áreas degradadas têm expandido e levam à pobreza do solo, o que dificulta ou impede o seu reflorestamento”. Essa relação direta entre degradação ambiental e colapso funcional demonstra que conservar a fauna e a flora é essencial não apenas para manter espécies vivas, mas para garantir o funcionamento do próprio sistema que sustenta a vida no semiárido. 


O Instituto SOS Caatinga realiza um trabalho intenso e contínuo de conservação do bioma, desenvolvendo ações para proteger e recuperar os ecossistemas da Caatinga, como afirma Jaqueline Tavares: “Desenvolvemos muitas atividades de conservação, indo da coleta de dados em campo à Educação Ambiental. Além de darmos palestras de educação ambiental, prestamos consultoria ambiental. Desenvolvemos pesquisas de mestrado sobre o macaco-prego-galego e jaguatirica na Caatinga”. 

Monitoramento de Jaguatirica em câmera-trap - Instituto SOS Caatinga

Jaqueline também destaca com empolgação as descobertas realizadas: “Temos muito a descobrir ainda, visto o baixo desenvolvimento de pesquisas científicas neste bioma. Por isso, cada encontro/descoberta nos entusiasma. Recentemente fizemos um registro em câmera-trap (armadilha fotográfica) de um veado-caatingueiro, espécie muito rara devido a destruição de habitat e caça predatória. Sem dúvidas, um momento bem emocionante, dentre tantos”.

A imagem mostra um veado-mateiro-vermelho
Registro de veado-caatingueiro em câmera-trap - Instituto SOS Caatinga

A preservação da fauna e flora da Caatinga, portanto, vai além de um debate ambiental: é um compromisso social, cultural e climático. Em meio aos desafios da desertificação, da perda de espécies e do uso predatório dos recursos, o bioma se reafirma como peça-chave para o equilíbrio do semiárido e para a construção de um futuro sustentável.  


A COP30 surge como oportunidade de colocar a Caatinga na pauta internacional e mostrar que o Brasil é capaz de liderar pela diversidade de seus biomas. 

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