MUDANÇAS ENERGÉTICAS E SEUS IMPACTOS NO ECOSSISTEMA PARAIBANO
- Repórteres: Karine Gomes e Surama Marjouri
- 10 de set.
- 14 min de leitura
Atualizado: há 3 dias
O sol nosso de cada dia ganha novas formas de ser aproveitado, placas fotovoltaicas geram economia, mas será que as usinas de energia solar que alteram drasticamente a paisagem do sertão, devem ser uma preocupação, no processo de transição energética?

O Sol é fonte de energia vital, luz que emana calor e infinitas possibilidades de vida para Terra, é fogo, é ação, é transformação de ciclos biológicos, químicos, térmicos e atualmente tecnológicos. Naturais como nossas manhãs ou pensados pelo homem para gerar economia financeira, os raios solares ganham novas nomenclaturas para transmutar aquecimento em contas de luz, pagas.
Nesta matéria vamos falar sobre a comercialização da energia solar para o consumidor residencial, ao mesmo tempo em que deixamos claro, os impactos no ecossistema do nosso sertão, com as grandes instalações, o agravamento da desertificação na Caatinga, provocando a reflexão de como a transição energética da Paraíba se alinha e se contrapõem aos objetivos globais de sustentabilidade e igualdade.
A 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), será realizada em Belém (PA) em novembro de 2025, e o tema ‘energias renováveis’ será uma das pautas discutidas, tornando-se crucial analisar não apenas o avanço numérico da energia fotovoltaica no Estado, mas também, seus desdobramentos socioambientais.
O QUE É ENERGIA FOTOVOLTAICA?
A energia solar fotovoltaica é a fonte de energia que mais se desenvolve no mundo. O Brasil é um dos países com maior extensão continental e por conseguinte com elevados indicativos de incidência solar, dando-lhe a oportunidade de se tornar uma nação líder neste segmento.
O site Portal Solar define a energia fotovoltaica da seguinte forma: “Quando as partículas de energia da luz do Sol (fótons) incidem sobre os painéis solares, ocorre a geração de uma corrente elétrica que pode ser direcionada e utilizada para alimentar residências, empresas e indústrias, tanto na cidade quanto em áreas rurais”.

O infográfico criado pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), mostra em primeiro lugar a Energia Hídrica como 43,2% de geração de energia, logo a seguir a Solar, com 23,5% e em terceiro a Eólica, com 13,3% da produção de energia em todo território brasileiro.
Essa arte também nos mostra outras fontes de energias renováveis e possíveis, como no caso da Biomassa + Biogás (7,1%), que são todas as matérias orgânicas, de origem vegetal ou animal, assim como o declínio de algumas, a exemplo da Nuclear (0,8%) por causa da geração de lixo radioativo e o risco de acidentes nucleares e do Carvão Mineral (1,4%), que libera grandes quantidades de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono (CO2), contribuindo para o aquecimento global e as mudanças climáticas.
A energia solar por muito tempo era apenas um ramo de pesquisa, uma ideia futurista, mas desde que começou a receber incentivos, investimentos e notoriedade, foi galgando espaços nos telhados, nos sertões, mudando vistas e biomas, fazendo as pessoas questionarem se é viável ou não, fazer parte desta evolução.
NOSSA ENERGIA DE CADA DIA
Cada um de nós tem uma relação com o consumo de luz diferente, tem quem passe o dia fora, tem quem faça home office, tem quem precise consumir mais pelo número de moradores dentro da residência, assim como existem os econômicos por vocação ou necessidade.
Por vezes a falta de informações e entendimento pode nos levar a postergar uma solução. Independente do seu perfil de consumo, procurar iniciativas seguras e eficazes para poupar energia (literalmente), é sempre uma boa opção.
Dona Graça, moradora de uma casa no bairro da Torre, classe média, pensionista, com 75 anos, reclama da conta de luz alta, mas admite que não acredita nos benefícios da energia solar:
“Olha, aqui em casa a conta sempre deu alta, já teve mês aqui de pagar mais de R$: 400,00 de luz. Porque aqui em casa moram quatro pessoas, que dormem com a televisão ligada a noite toda, tem dias que a TV fica ligada o dia todo. Meu neto já falou que eu devia colocar energia solar, mas como eu não entendo como funciona eu prefiro não colocar, porque eu sei que a conta vem alta num mês, mas no outro vem mais baixa e não vou ficar esperando mais de 05 anos para valer a pena o investimento.”
Seu neto fala sobre a possibilidade de instalar placas de energia solar na casa: “Custa em média 5 mil, mas em 5 anos tu tira esse investimento e não vai mais pagar energia, pelo contrário vai vender”.
Entrevistamos também a Dona Helena Teixeira, Servidora Pública, casada, mãe de dois filhos, que mora em um condomínio fechado, localizado no bairro Portal do Sol. Ela nos contou que o interesse em instalar as placas solares, surgiu por sempre ver pelo condomínio, vizinhos que já tinham posto em seus telhados.
“Por esse motivo, me deu vontade de colocar energia solar na minha casa. Até pela questão da sustentabilidade, mas também por questão de economia mesmo. Então, ano passado, eu encontrei com um amigo meu, e ele me fez a proposta, (...) como eu participo muito, escuto muitas notícias, e vejo que lá no interior, até no sítio, o pessoal está colocando energia solar…”
A servidora explica sobre valores e quanto tempo passou para sentir no bolso os primeiros impactos positivos: “Aí eu fiz o planejamento, a empresa fez uma proposta de fazer um pagamento em 48 meses, e a gente colocou e começamos o ano passado. Logo no terceiro mês, a gente já viu uma diferença”.
Dona Helena Teixeira, finaliza esclarecendo: “Não é muito, não, mas é uma diferença que daqui para frente vai ser considerável. Eu já pagava na faixa de R$380,00, R$400,00, e agora estou pagando R$128,00, R$130,00 nessa faixa”.
É importante destacar que as placas de energia solar, trazem sim, economia às pessoas que resolvem aderir a instalação, mas ainda é preciso continuar pagando a tarifa mínima, valor fixo mensal cobrado pelas concessionárias de energia elétrica (Energisa, na Paraíba), para garantir que a distribuidora cubra os custos de disponibilização e manutenção da rede elétrica, mesmo que o consumo real seja baixo.

Nesta conta de luz é possível identificar um abatimento de R$50,63 reais, referente a energia injetada, de um morador que instalou placas de energia solar em sua residência e já está tendo retorno.
EMPRESA DE VISÃO, ECONOMIA NA CONTA?
O Jom Lab entrevistou a empresa de Energia Solar Megga Sun, localizada no bairro 13 de Maio, em João Pessoa, para entender como funciona o processo de instalação de Painéis Fotovoltaicos, o tempo de retorno, viabilidade, manutenção e legalidade. Conversamos com Allysson Ramon - Coordenador técnico, que trouxe informações relevantes.
Jom Lab: Allysson nos conte um pouco sobre sua experiência na empresa Megga Sun.
“No começo, o nosso desafio foi fazer as pessoas entenderem que isso trazia um retorno financeiro para elas. Então, foi ali entre 2019, a época em que a gente começou a crescer realmente (...).
Jom Lab: Como é instalado os kits fotovoltaicos nas casas residenciais? Como se dá o processo?
“Ah, sim. Quando o cliente entra em contato com a gente, nós verificamos primeiro o que o cliente deseja, e fazemos um pré-orçamento, para que ele tenha noção e saiba se aquilo faz sentido para ele ou não”. E continua explicando: “Ele autorizando, nós fazemos uma visita para fazer a validação estrutural do local, (...) saber se o telhado do cliente está em boas condições”.
Jom Lab: Com relação a essa instalação, em questão de números isso traz algum prejuízo ou benefício para quem deseja colocar energia solar em sua casa?
“Quando a gente fala da questão de números, a energia solar ela traz para o imóvel do cliente pelo menos 10% de valorização do imóvel”.
Jom Lab: E sobre o retorno financeiro, quanto tempo em média a pessoa recupera o investimento?
“Falando primeiro sobre o retorno financeiro, que é conhecido aqui como payback, ele varia conforme a necessidade do cliente. (...) O payback no mínimo são dois anos. É o período que você tem, e lembrando, dependendo do tipo de investimento. Tem investimentos que você tem esse retorno bem mais rápido”.
Jom Lab: Esse “payback” se dá como? E como o cliente aproveita esse retorno?
“Uma residência está produzindo 1.000 quilowatts, só que ela só consome 500 no mês inteiro, os outros 500 se perdem não, ele é injetado na rede da concessionária, onde ela vai armazenar esses créditos e vai distribuir para onde você destinar, seja para a própria residência, para ficar como crédito, ou seja para outra residência, para ela também receber como crédito.
(...) Toda beneficiária tem que ser do mesmo cliente, do mesmo titular”.
Jom Lab: E após a instalação, vocês realizam algum acompanhamento ou manutenção?
“Sim. O acompanhamento, falando dos sistemas mais comercializados hoje, que é o On-grid, geralmente é feito pelo menos anualmente, que é uma limpeza, uma lavagem, (...) Manutenção também, só deixando claro, não é apenas limpeza de painel. Muita gente interpreta dessa forma, é só você chegar, passar uma escovinha no painel. Não, a manutenção é você verificar o disjuntor, verificar o cabeamento, verificar todos os componentes do sistema de energia solar”.
Jom Lab: Do ponto de vista legal, existe uma lei estadual ou federal que regulamenta a energia solar?
“É uma lei nacional, que é a Lei nº 14.300/2022. (...) Antes, o setor solar não era regido por uma lei. Ele tinha só uma pequena resolução, (Resolução 482/2012) que dizia, olha, o sistema solar, tem que ser assim. Depois surgiu a lei, protegendo quem faz essa parte de integração”.
LEI Nº 14.300, DE 6 DE JANEIRO DE 2022
Institui o marco legal da microgeração e minigeração distribuída, o Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE) e o Programa de Energia Renovável Social (PERS).
A Paraíba vem se destacando pela expansão e modernização a cada novo ano, como um pólo energético que borbulha à décadas, estudos na área.
PARAÍBA - O BOOM DA ENERGIA SOLAR
A Paraíba registra um crescimento exponencial no uso de energias renováveis que a coloca no centro das discussões sobre a mudança de matriz energética no Brasil, mas essa história de revolução vem de muitos anos atrás.

No recorte da imagem, a pergunta: “O Sol pode ser uma solução?”. É interessante a análise com nossa visão atual: “Quão surpreendente era para aquela geração ver o potencial solar sendo usado como uma ferramenta de transmutação energética”.
Uma retrospectiva acerca de inovação e crescimento, retrata raízes sobre o estudo da energia solar na Paraíba, desde a década de 1950, quando na Escola Politécnica de Campina Grande, professores começaram a explorar o potencial dessa fonte energética.
Segundo informações do site Arquivo Afonso Pereira foi: “A dedicação de Cleantho da Câmara Torres, como coordenador do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que formou um grupo de professores focados no estudo de tecnologias solares. Esse esforço coincidiu com a crise do petróleo nos anos 70, que catalisou a busca por fontes alternativas de energia. Em 1973, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), foi inaugurado o Laboratório de Energia Solar (LES) na UFPB, marcando um divisor de águas para a pesquisa em energia solar no Brasil.”
Toda a pesquisa realizada por Cleantho da Câmara Torres, fez a Paraíba chegar aqui em 2025 com a Aneel trazendo dados progressivos, relativos ao crescente números de instalações e investimentos no estado associado à geração limpa de eletricidade pelos painéis de energia fotovoltaica.
MERCADO SOLAR NA PARAÍBA
Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) revelam que, apenas no primeiro trimestre de 2025, foram instaladas 2.808 usinas fotovoltaicas no Estado, um crescimento de 55,4% em relação ao mesmo período de 2024 (1.807 usinas). Os números confirmam a tendência de alta: em 2023, a Paraíba fechou o ano com 4.424 sistemas, saltando para 7.323 em 2024, um aumento de 65,3% em 12 meses.
A ABSOLAR é uma associação que atua desde 2013, promovendo e conectando empresas da cadeia produtiva, defendendo políticas que incentivem o crescimento do setor, incluindo o uso de armazenamento de energia e hidrogênio verde, fornecendo informações de mercado e infográficos técnicos que ajudam a desvendar o rumo da energia solar fotovoltaica em nosso país.

Os primeiros colocados foram o Estado de São Paulo, com 14,5% ; Minas Gerais em 2º lugar, com 12,2% e em 3º lugar com - 8,7%, Paraná em Potência Instalada.
No Infográfico acima, podemos perceber a colocação da Paraíba em 22º lugar, em relação a potência instalada ou capacidade bruta (kW). Segundo o site Órigo Energia, a potência instalada significa a soma da potência dos painéis solares na geração distribuída em residências, negócios, indústrias, entre outros, atuantes no País.

Este terceiro Infográfico trata dos estados em ordem decrescente que mais estão em operação; em construção e com construção não iniciada, mas confirmada para os próximos anos.
De acordo com dados da Absolar, a Paraíba ocupa a 8ª posição entre os estados do país, em Geração Centralizada de energia solar.
De acordo com informações mais recentes do site Movimento Econômico, o Governo do Estado início à implantação de um sistema de geração de energia elétrica por meio de usinas solares fotovoltaicas, própria.

As unidades de geração serão construídas nos municípios de Coremas e São Mamede, no Sertão paraibano, em uma área de aproximadamente 150 hectares. O modelo adotado é de parceria público-privada (PPP), com contrato que contempla a construção, operação e manutenção das usinas por um período de 25 anos, afirmou o site Movimento Econômico.
Ricardo Coifman, representante do Consórcio Energia Paraíba, declara: “O estado é pioneiro no Nordeste nesse tipo de projeto que marca a transição energética para uma fonte limpa e, principalmente, sustentável porque estamos tratando de descarbonização, que vem de encontro à necessidade da agenda global e nacional em função das mudanças climáticas no país e no mundo”, contou ao site Movimento Econômico.
A energia gerada será destinada a prédios de uso contínuo, como escolas, hospitais e unidades administrativas. O excedente poderá ser compensado em outras unidades, com base no sistema de compensação da geração distribuída, regulamentado pela Agência Nacional de Energia Elétrica, (Aneel).
BELÉM ABRAÇA A COP 30 E REVELA VERDADES
Belém se prepara para sediar, em 2025, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), um evento de importância mundial que coloca o Brasil no centro do debate ambiental. A escolha da capital paraense como anfitriã é um reconhecimento do papel estratégico do país na agenda climática global, especialmente por sua vasta riqueza em biomas e recursos naturais.
A conferência é vista como uma oportunidade única para o Brasil liderar discussões cruciais e apresentar soluções inovadoras para os desafios do clima.
As Mudanças Climáticas referem-se a alterações de longo prazo nos padrões de temperatura e clima. Embora algumas dessas mudanças sejam naturais, a partir do século XIX, as atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, têm sido o principal motor desse fenômeno. A emissão de gases do efeito estufa cria uma camada que retém o calor na atmosfera, elevando a temperatura global.
O principal objetivo da COP 30 é fortalecer o compromisso dos países em limitar esse aumento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, uma meta considerada essencial para evitar os impactos mais catastróficos.
A transição para Energias Renováveis é uma das principais estratégias para combater as mudanças climáticas. Diferente dos combustíveis fósseis, essas fontes não emitem gases poluentes na atmosfera. Dentre elas, a Energia Solar Fotovoltaica tem se destacado globalmente. Esta tecnologia, que converte a luz do sol diretamente em energia elétrica por meio de painéis, é limpa e abundante, especialmente em países como o Brasil, que possuem alta incidência solar durante o ano.
No contexto da COP 30, o Brasil poderá mostrar ao mundo seus avanços na matriz energética, destacando o crescimento da energia solar. No entanto, o evento também será uma plataforma para debater os desafios associados à sua expansão, como a necessidade de garantir que o desenvolvimento ocorra de forma sustentável, respeitando os biomas e as comunidades locais.
O desafio de limitar a temperatura global a 1,5°C é complexo e exige ações coordenadas entre governos, empresas e sociedade civil. Para que a COP 30 seja um sucesso, é crucial que os debates vão além das negociações políticas e se traduzam em impactos sociais concretos. Isso significa que as discussões sobre a transição energética precisam incluir a participação de comunidades tradicionais, povos indígenas e pequenos agricultores, que são frequentemente os mais afetados pelos projetos de infraestrutura e pelas mudanças no clima.
A conferência em Belém, oferece uma oportunidade singular para dar voz a essas populações, garantindo que suas experiências e conhecimentos ancestrais sobre a natureza e o uso sustentável dos recursos sejam considerados. A expectativa é que o evento promova a criação de políticas mais justas e inclusivas, que não apenas diminuam as emissões de carbono, mas também garantam um desenvolvimento equitativo e respeitoso para todos os brasileiros.
E O IMPACTO DAS PLACAS DE ENERGIA SOLAR NA NATUREZA?
No semiárido nordestino, a energia solar desponta como uma aposta para o futuro do Brasil. Mas na Caatinga, um bioma já vulnerável à desertificação, a expansão desordenada desses projetos levanta um dilema: como gerar energia limpa sem comprometer a preservação ambiental e as comunidades locais?
A instalação de grandes usinas na região, impulsionada pelas mudanças climáticas, gera um desmatamento em larga escala. Esse processo agrava a perda de habitats, a diminuição da biodiversidade e a exposição do solo, acelerando a desertificação. É uma transição energética que, se não for feita de forma planejada, pode trazer mais problemas do que soluções.
A transição para fontes de energia renovável é uma necessidade global urgente para combater as mudanças climáticas.
A ativista ambiental e artista visual Yasmin Formiga, que em 2025 ficou em segundo lugar no renomado Prêmio PIPA de arte contemporânea brasileira, testemunha de perto os impactos dessa expansão. Natural de Santa Luzia, na Paraíba, que abriga um grande complexo solar, ela descreve como a paisagem do sertão está sendo alterada de forma drástica, com o uso de explosivos, a intensa movimentação de caminhões e a supressão da vegetação nativa.
Em entrevista ao Jom Lab, Yasmin compara a situação a um "neocolonialismo contemporâneo", onde o desenvolvimento econômico de um lado se baseia na apropriação e exploração do outro. Ela faz um paralelo com o pensamento do filósofo e ativista Nego Bispo, ao afirmar que a lógica por trás da instalação das usinas é a mesma da colonização: "Primeiro vieram para levar o nosso Pau Brasil. Depois vieram para pegar o nosso sol e o nosso vento." Para ela, essa apropriação territorial é feita de forma que as empresas invadem o território, ludibriam as pessoas e produzem uma energia que nem sequer fica na região.

"Não existe energia limpa. Por mais que ela apareça com nome de energia verde, de energia sustentável, ela vai estar retirando algo da natureza", afirma a ativista. Yasmin defende a necessidade de se priorizar a geração distribuída, com a instalação de painéis em residências e pequenas propriedades. Para ela, o modelo atual de "fazendas solares", que ocupam vastas áreas, é ignorante e acelera o processo de desertificação.
A remoção da cobertura vegetal, essencial para a saúde do bioma, expõe o solo ao sol e à erosão. A Caatinga, com suas espécies únicas e adaptadas, sofre com um processo de invisibilização, que Yasmin define como racismo ambiental. "A Caatinga é historicamente invisibilizada... isso não chega à tona, porque a Caatinga sofre racismo ambiental", ressalta.

A instalação das usinas também afeta as comunidades locais, sejam elas quilombolas ou de pequenos agricultores. A vulnerabilidade dessas populações, muitas vezes sem acesso à educação formal, é explorada na hora de assinar contratos de arrendamento de terras. A ativista aponta que muitas promessas não são cumpridas e que as empresas não se importam em comunicar sobre os malefícios que a instalação vai causar. A solução não é barrar o desenvolvimento da energia solar, mas direcioná-la de forma inteligente e inclusiva. Yasmin defende a qualificação profissional da mão de obra local, garantindo que as comunidades do semiárido sejam parte ativa do processo.
Com a realização da COP 30 em Belém, o Brasil terá a oportunidade de liderar a discussão sobre como a energia solar pode ser um vetor de desenvolvimento sustentável e justo. A Caatinga pode ser o palco para o país mostrar ao mundo que é possível conciliar a necessidade de energia limpa com a preservação de seus biomas mais preciosos.
Para a ativista, é crucial que a juventude e as comunidades que lutam por seus territórios tenham a oportunidade de participar ativamente da conferência, para que suas vozes sejam ouvidas em um palco global. No entanto, ela expressa um certo ceticismo. "A COP é ainda um espaço muito limitado... Eu ainda não vejo como um espaço aberto. Na verdade, eu vejo um espaço de muito deslumbramento", aponta. Ela reforça que a participação de movimentos territoriais é essencial para que a luta pela Caatinga possa alcançar a conferência.
Você acha que o fomento à energia solar distribuída é a melhor solução para a Caatinga?
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