Sistema de Alerta contra eventos climáticos extremos na proteção de vidas na Paraíba: Fique por dentro da tecnologia!
- Repórteres: Anna Athayde, Ana Sarah Cordeiro, Anna Marissa e Deborah Nascimento
- 3 de set.
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Atualizado: há 5 horas

A COP 30 tem como um dos temas principais a questão da adaptação às mudanças climáticas. O uso de tecnologias digitais pode ser uma das formas de nos adaptarmos aos acontecimentos climáticos. Não à toa, muitas iniciativas públicas têm surgido em diferentes países em busca da mitigação dos efeitos climáticos no nosso cotidiano.
Uma delas foi o alerta criado pela Defesa Civil da Paraíba (Defesa Civil Alerta) que chegou diretamente nos celulares dos paraibanos, em junho passado, com um aviso sobre o risco da ocorrência de um evento climático extremo.
Foi apenas um teste do novo sistema de prevenção de chuvas intensas, enchentes e deslizamentos. O objetivo era direcionar a população para um local seguro indicado pelas autoridades e fornecer orientação para que as pessoas consigam se proteger em suas casas.
A tecnologia está sendo cada vez mais utilizada na prevenção de desastres naturais e na aproximação entre Estado e cidadãos. Entretanto, apesar das melhorias, essas novas tecnologias apresentam limitações. O teste oficial implementado pela Defesa Civil não abrangeu todo o estado, limitando-se a poucas cidades, como João Pessoa, Alagoa Grande, Natuba e Coremas.

A razão para a restrição é a limitação no alcance das antenas de telefonia em outras regiões, um obstáculo que demonstra a necessidade de investimento em infraestrutura para que a tecnologia possa, de fato, beneficiar a todos. A Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) destaca que no Sul e no Sudeste, o sistema já foi implementado desde novembro de 2024. Após o Nordeste, agora no mês de agosto o teste será no Norte e Centro-Oeste.
Um alerta tecnológico e vulnerável para João Pessoa
Apesar do avanço tecnológico, o alerta por si só não resolve todos os problemas. A cidade de João Pessoa enfrenta riscos naturais significativos que a tornam particularmente vulnerável. Sua localização no litoral a expõe à erosão constante, avanço das águas do mar e chuvas que podem causar estragos. Bairros como Manaíra, Cabo Branco e Altiplano sofrem com a ação do oceano, enquanto comunidades como Timbó e São José enfrentam alagamentos.
A especialista em jornalismo ambiental e mestranda Carina Barros reforça a importância de ações concretas. “Vai chover, vai vir a tragédia, vai ter aviso. Mas e as pessoas? Elas voltam a morar nos territórios vulnerabilizados?". A pergunta expõe um problema fundamental: a tecnologia pode avisar sobre o desastre, mas não resolve a causa raiz. É preciso ir além do aviso, discutir melhores projetos para as cidades, reformar moradias em áreas de risco e garantir que as pessoas não precisem viver em locais perigosos.
A falta de planejamento urbano e a desigualdade social formam os principais obstáculos, pois vulnerabilizam parte da população. A professora de Geografia, Tatiana Bustorff Lameirão, reforça a importância de um planejamento que respeite a vocação natural do território. "Do ponto de vista geográfico, é essencial respeitar a vocação natural do território, evitando construções em áreas de encosta, manguezais e zonas sujeitas à maré. Um bom caminho seria investir em um planejamento urbano baseado em dados ambientais, com prioridade para a infraestrutura verde, como parques lineares em áreas de várzea, e o uso do solo orientado por zoneamento ambiental. A regularização fundiária com orientação técnica, somada a políticas habitacionais seguras, também pode tirar famílias de áreas de risco e contribuir com a resiliência da cidade".
De acordo com Janildes Andrade, assessora da Secretaria de Infraestrutura do Estado, O "Defesa Civil Alerta" é uma ferramenta de preparação para eventos extremos. O principal objetivo é avisar a população com antecedência sobre perigos iminentes, como chuvas intensas, enxurradas ou o risco de rompimento de barragens. A ideia é que, ao receber o alerta, a população possa tomar medidas imediatas de proteção, como buscar abrigo em casa ou evacuar a área de risco para um local seguro.
Na Paraíba, os casos comuns de alagamento dificultam o trânsito na capital e invadem casas em municípios do litoral norte como na Baía da Traição, deixam o cotidiano de diversos moradores um caos. A vivência sob constante ameaça, marcada pela privação de sono em dias de chuva e pela preocupação com a contaminação da água por esgoto, evidencia como o Brasil ainda não garante acesso adequado ao saneamento para grande parte da população. A reportagem do Jornal Nacional, divulgada em março de 2025, revelou que a carência nessa área resultou em mais de 300 mil internações em 2024. O dado mostra, na prática, os impactos psicológicos e de saúde que essa realidade provoca, um problema que a tecnologia, isoladamente, não é capaz de resolver.
A COP 30 como aliada do Governo e da educação
A discussão sobre o sistema de alerta e a vulnerabilidade de João Pessoa se conecta com um evento de importância global: a COP 30, que acontece em Belém do Pará. Com isso, é importante ligar o alerta para o risco de que projetos como o sistema de alerta se tornem meras “vitrines” políticas, sem a continuidade necessária para gerar um impacto real e duradouro. A falta de continuidade política é um dos principais fatores que mais contribuem para o aumento das desigualdades sociais e ambientais no Brasil.
É nesse contexto que o conhecimento geográfico e a educação, conforme destacado pela professora do Ensino Médio de geografia Tatiana Bustorff Lameirão, desempenham um papel fundamental. Ela ressalta a importância da Geografia escolar e como ela exerce um papel fundamental em formar uma consciência crítica nos jovens, ajudando-os a compreender que as mudanças climáticas não são algo distante. A sala de aula se transforma em um espaço crucial para o desenvolvimento de um pensamento crítico, capacitando a próxima geração a lidar com os desafios ambientais e a exigir soluções políticas eficazes.
A professora enfatiza que o papel da Defesa Civil pode atuar de forma mais preventiva com a realização de mapeamento constante das áreas de risco. O sensoriamento remoto por satélite e drones também podem auxiliar no monitoramento de áreas suscetíveis à erosão e deslizamentos.
De fato, a antecipação pode ajudar e muito na prevenção desses tipos de acontecimentos. Na sexta-feira, dia 15 de agosto, por exemplo, João Pessoa ficou debaixo d’água devido às fortes chuvas, ultrapassando os 200 mm de chuva, pegando muitos cidadãos desprevenidos.

Campanhas educativas nas escolas e nas comunidades, e ampliação dos sistemas de alerta antecipado por SMS e rádio. Já a coleta de dados climáticos, como nível de chuvas e umidade do solo, devem ser analisadas em tempo real, permitindo à Defesa Civil emitir alerta com mais precisão e antecedência. Ela finaliza dizendo que parcerias com universidades locais, como a UFPB, também podem contribuir com dados técnicos e apoio científico para ações mais assertivas.
A professora também mostra que o papel e o engajamento da população, seria importante para popularizar esses dados, com aplicativos acessíveis, a criação de painéis informativos nos bairros e o envolvimento de escolas e associações de moradores em simulados de emergência.
Tatiana conclui que, ao apresentar dados embasados e territorializados nos fóruns da COP 30, é possível justificar a necessidade de recursos para projetos de adaptação climática. Ao conectar a vulnerabilidade local de João Pessoa com a agenda global da COP 30, ela mostra que investir em ações preventivas, se forem realizadas bem fundamentadas, como sistemas de alerta e educação ambiental, é investir em adaptação climática com justiça social e planejamento responsável, fortalecendo a capacidade de resposta da cidade e protegendo vidas.
A luta por um futuro mais resiliente para João Pessoa e outras cidades brasileiras não se resume a um sistema de alerta tecnologicamente avançado. É uma luta por continuidade política, planejamento urbano adequado, justiça social e educação. A COP 30 representa uma oportunidade para o Brasil de mostrar que o investimento em tecnologia deve andar de mãos dadas com a responsabilidade social e ambiental, garantindo que as soluções cheguem a todos e não se percam em meio à alternância de poder.
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